Minha gente, o celotex ou
jogo de botões
veio a mim
nos idos
de 1947, quando presenciei na casa de uma vizinha ,
dois rapazes
jogando sobre uma pequena
mesa , utilizando-se de botões de capa .
Lembro-me que a bola
era uma conta
de madrepérola , dessas usadas nos vestidos
das mulheres . Quando
caia no chão , saltava que era uma beleza .
Botões de roupa deram origem ao futebol de botão
Goleiro de caixa de fósforos devidamente paramentado
Os primeiros jogos foram horríveis ,
com derrotas
acachapantes.
Campo sobre o piso, os primeiros passos no botão.
No fim da rua , morava um garoto caneludo, de nome
Divanilton, dois ou
três anos
mais velho ,
cujo time ,
era o Sport. Contra
esse adversário ,
não tinha
jeito . Era
sova e mais
sova . A regra
era a leva-leva e o campo ,
bem diminuto , ficava sobre a calçada .
Formato do botão Amorim, o infernal
O destaque do time
do Sport era um
botão de nome
Amorim, que fazia gol
adoidado e infernizada meu juízo .
Passava dias e mais
dias pensando como
me livrar de
Amorim. Algumas vezes propus trocá-lo por botões do meu time . Em outros ,
apelei até para
permutas por
gibis
ou mesmo
coleções de brindes ,
muito em
voga na época .
Não havia nada
que demovesse Divanilton e Amorim
continuava a fazer gols
e mais gols
em minha
barra .
Cena do último episódio do Falcão da Floresta
Foi então
que chega
o dia do último
capítulo do seriado
e eis que
Divanilton, minutos antes
de irmos para a matinê ,
me procura ,
alegando que tinha
gasto o dinheiro
que recebera da mãe
e assim não
iria poder assistir ao fim do tão
esperado seriado . Meu
dinheiro também
era mirrado, só
dava para pagar o ingresso do cinema
e comprar uma caixinha
de chicletes . Aí ,
Divanilton, no desespero , propôs: eu te dou
Amorim, pelo ingresso .
Andei prá lá
e prá cá e, finalmente ,
aceitei a troca , sem
antes exigir
de Divanilton, que me
contasse todo o capítulo
da série . E, assim ,
Amorim, o famoso Amorim, ficou sendo o centro avante
do América que nunca
mais iria infernizar
minha vida .
Time de botões de capa dos dias de hoje
(Mais uma estorinha do jogo de botão, vivida por este blogueiro. Texto escrito no ano de 2006).
2 comentários:
Meu amigo Abiud,
Estas histórias são sempre maravilhosas. E a incrível coincidência de sua apresentação ao futebol de mesa idêntica a minha, pois conheci o futebol de mesa em 1947. Quanta beleza aconteceu em nossas vidas durante todos os quase setenta anos de vivência botonistica. Toda sorte de botões passou por nossas mãos, dos quais, guardo uma ponta de saudade, pois sempre doei muitos times a quem não tinha condições de comprar. Lembro que, quando trouxe para Brusque o futebol de mesa, fiz várias doações entre as quais os dois filhos de um funcionário do Clube Atlético Carlos Renaux (o mais antigo de Santa Catarina) que não tinham condições de comprar. O pai era massagista do clube e fazia bicos para conseguir colocar comida em casa. Os meninos andavam com alguns, que jogavam entre os infantis da Associação Brusquense de Futebol de Mesa. Os olhos dos dois se encheram de lágrimas e vibraram com seus times.
Acredito que esta história, escrita em 2006, deve ter sequencia e muitas outras virão enriquecer a história de nosso esporte.
Abraço gaúcho e colorado.
Amigão Sambaquy, mesmo me gabando de ter uma boa memória, não consigo me lembrar como meus primeiros times se perderam no tempo. Na adolescência, tive três times de chifres (Portuguesa, Palmeiras e Náutico) e não me recordo que fim levaram. A rigor, somente, a partir de 1965, depois de uma pausa de mais de cinco anos, quando mandei fazer um time alvirrubro, é que nunca mais me afastei do botão, até os dias atuais. Abração pernambucano.
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