Minha lista de blogs

terça-feira, fevereiro 06, 2007

PADRE OU PÁDUA

Veteraníssimo Chico Barbosa, um dos maiores botonistas da história do futebol de botões
Eis mais uma historinha do mundo do futebol de mesa. O fato ocorreu no século passado, mais precisamente na década de 50, na rua Montevidéu, palco de grandes acontecimentos mesafutebolísticos. Era a época romântica do futebol de botões, jogado em terraços, quintais e garagens. 
As personagens, todas amigas, alguns até com certo grau de parentesco. O que se via naquela fase de ouro era apenas uma rivalidade, porém, sem rancores. Após as batalhas, reinava um clima de paz e tranqüilidade. Alguns lamentos, é verdade, que depois se diluíam com facilidade e, então, novas pelejas já estavam se realizando. 
Assim era a vida esportiva na garagem do saudoso Aldiro Santos, um dos maiores botonistas do Recife e adepto da regra de celotex da Boa Vista, atual regra pernambucana de futebol de mesa, que adota a bola de borracha e um toque com cada botão, hoje, limitado a doze toques. 
Corria o campeonato e o encontro entre Montevidéu x Boca Juniors era aguardado com ansiedade. Pelo lado do Monte, dono do campo, seu treinador Aldiro tinha passado a semana toda se preparando para o grande embate. Do lado do Boca, Chico Barbosa confiava na precisão de seus chutes de longa distância, principalmente quando eram feitos pelo seu melhor atacante, o craque mais cobiçado da Liga, Sívori, um dos artilheiros da competição. 
Chega o grande dia e a platéia se posiciona para ver o embate mais aguardado daquele campeonato. Arlindo Vilaça, hoje também no Paraíso, assume a arbitragem da partida. Jogo nervoso, com muitas imperfeições e o primeiro tempo com duração de 20 minutos se escoando e nada do gol aparecer. 
Vem a segunda etapa e quando tudo parecia que o confronto terminaria empatado, eis que uma bola é lançada pelo Montevidéu e pára, exatamente na entrada da área, onde dois botões estavam em posição de arremate. Um arriscando o ângulo direito do goleiro e o outro com a mira no ângulo oposto. Sai da boca de Aldiro o clássico sinal de chute: lá, com Padre! 
Prontamente, Chico Barbosa posiciona o goleiro, fechando mais o ângulo direito e após o indefectível “pronto”, fica esperando o desfecho do lance. Aldiro então disposto no lado direito da mesa, dá uma volta no campo e se coloca no outro lado e chuta no ângulo esquerdo e marca o gol que lhe daria o título. 
Chico Barbosa, surpreso, indaga: você mandou colocar para o chute de Padre, mas quem chutou foi Pádua, pois todo mundo sabe que Padre é o botão preto, enquanto que Pádua é cinza! E, aí, como é que fica, Vilaça? 
Aldiro, então, mostrando todas a sua raposice, dando uma tragada profunda no cigarro, contesta: não, senhor! Padre agora é o cinza. Pode ver o nome grafado embaixo do botão. Ontem à noite eu fiz a troca! 
Revoltado, Chico retira-se de campo e Aldiro comemora o título de campeão. 
De resto, o que se sabe é que o episódio, toda vez que é lembrado causa um certo constrangimento no grande amigão Chico Barbosa, mas, a jogada caiu no folclore do botão e, hoje, em quase todas as partidas que são realizadas, quando uma equipe tenta um lançamento, onde haja dois botões para receber a bola em condições de arrematar a gol, é comum ouvir-se: Padre ou Pádua?


Nenhum comentário: