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sexta-feira, outubro 12, 2007

A ALÇA DO CAIXÃO

Armandinho, nos dias de hoje, relembrando os bons tempos do passado
Essa historinha aconteceu em 1966, no bairro da Boa Vista, na Rua Visconde de Goiana, na casa da mãe de Severino Vieira, o famoso Biu da palheta redonda, cujo time de botão era o incrível Vasco da Gama, com seus astros Cerejeira, Barrabás, Valussi, Maracahy e Pé-de-Valsa.
O campeonato começara em março, em dois turnos, com dez equipes. Nessa época, os botonistas da Boa Vista se sentiam ameaçados com os forasteiros da Estância, desde o ano anterior , quando Valdir Santa Clara conquistou de maneira brilhante o campeonato de 1965, vencendo as duas partidas decisivas contra o próprio Vasco da Gama, de Biu Vieira. Foi a maior conquista santista da sua história.
Começa o campeonato e mais uma vez a turma da Estância se destaca e ameaça de novo a turma da Boa Vista. O primeiro turno é vencido pelo ainda jovem de 15 anos, Armandinho, com seu Botafogo, de Morcego, Doval, Zé Roberto e Belga. Era seu primeiro campeonato entre os monstros sagrados do celotex.
Vem o segundo turno e o Sport, de Paulo Felinto, estanciense de primeira linha, não encontra obstáculos e vence tranquilamente.
Quando tudo parecia que a decisão, obviamente, seria entre os dois vencedores dos turnos, eis que Biu, junto com a cúpula da Boa Vista, tentando resgatar a hegemonia do futebol de botões para seu bairro, resolve realizar um terceiro turno e chama o saudoso Gilvan Carvalho, um autêntico craque da palheta, com seu não menos famoso esquadrão santista, que estava afastado da Liga da Boa Vista, há algum tempo.
Aceito o convite, Gilvan vem com a corda toda e, numa arrancada impressionante, fatura o terceiro turno. Vibra a turma da Boa Vista, pois a hegemonia do futebol de botões estava para voltar para o bairro. Iria acabar a ameaça.
Começa a decisão, num triangular espetacular. Casa cheia e as torcidas mais do que animadas. No primeiro jogo, o Botafogo, de Armandinho, numa partida emocionante, vence ao Sport, de Paulo Felinto, por 3x2. O segundo jogo reuniu o Santos, de Gilvan Carvalho e o Sport, derrotado no jogo anterior. Partida dura, catimbada, com a vitória, no finalzinho, do Santos, por 2x1.
Botafogo x Santos seria, então, o grande clássico que iria apontar o supercampeão da Boa Vista, marcado para o domingo seguinte, com início previsto para às 10 horas da manhã.
Durante os dias que antecederam o embate, era só no que se falava e os bochichos corriam soltos, com o bloco da Boa Vista apostando todas as fichas no seu representante legal, o Santos, de Gilvan. Eles alegavam que Armandinho ainda era inexperiente e que iria tremer na hora h, tal a pressão que iria se fazer.
A turminha da Estância torcia abertamente pelo sucesso do alvinegro botafoguense, porém, sem muito entusiamo, pois, de uma certa forma, concordava com a avaliação da turma do outro lado.
Chega o grande dia e Gilvan, matreiramente, surge cedinho e avise que só vai poder jogar após o meia-dia, pois teria que ir a um enterro de um conhecido da família dele. Armandinho já estava lá, também, e permaneceu quietinho, somente aguardando o grande momento. As horas foram se passando, a fome chegando e a ansiedade aumentando cada vez mais.
Eis que, por volta das 12h30, adentra à casa da mãe de Biu, Gilvan Carvalho, com toda a sua malícia. Escaladas as equipes, o árbitro Humberto Simons dá início à partida. E, então, o mais incrível acontece: o Botafogo arrasa o Santos e sapeca-lhe sem dó nem piedade um sonoro 5x0. Sagra-se supercampeão da Boa Vista para a alegria dos estancienses. 
Gilvan, cabisbaixo, ainda sentindo o amargo da derrota, não se conteve e, virando-se para a platéia, desculpou-se: - Não deu, turma! Passei o tempo todo segurando a alça do caixão! A mão pesou!

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